Um Modelo Financeiro para Converter Programas de Bem-estar em Investimentos: estudo de caso
A primeira vez que fui apresentado ao desafio de calcular o ROI de um programa de bem-estar em um investimento (incluindo a Taxa Interna de Retorno e o Valor Presente Líquido), me senti um pouco perdido.
Afinal, venho da área financeira e não do RH ou da área da saúde. Então decidi aplicar a mesma metodologia utilizada pelos outros departamentos internos para obter aprovação orçamentária dos seus investimentos, e fui superando os obstáculos à medida que eles apareciam.
Este processo resultou na abordagem padrão utilizado na Calculadora WELLCAST ROI™ (vide www.wellcastroi.com) que combina dados epidemiológicos com teoria de produtividade e fórmulas financeiras. Vamos agora para um exemplo. Vou ajustar o cálculo que faria para justificar um investimento em uma fábrica nova, para um investimento de bem-estar.
Vamos supor que o meu objetivo é obter aprovação para construir uma nova fábrica para produzir e vender um produto. Como primeiro passo, calculo todos os custos iniciais que terei como, por exemplo, os custos de aquisição de maquinário, do terreno, e da construção do prédio, e os custos contínuos como salários e benefícios, eletricidade, suprimentos, peças, transporte, impostos, marketing etc. que terei nos próximos anos.
A partir do segundo ano, eu começaria a vender meu produto e gerar faturamento. A projeção do faturamento seria baseada em uma pesquisa de mercado, considerando a concorrência, e o preço pelo qual vou vender meu produto.
Durante os primeiros anos, talvez geraria uma perda (os custos excedem as receitas) e, eventualmente, as receitas começariam a superar os custos. No caso da minha fábrica, eu selecionaria um período de 10 anos para calcular esses fluxos de caixa. Aí dividiria esse fluxo de caixa total pelo investimento inicial para obter algo chamado a Taxa Interna de Retorno (TIR) ou compararia o investimento inicial com o fluxo de caixa total para obter algo chamado Valor Presente Líquido.
Observe que este cálculo não é feito à mão, pois existem funções no Excel chamadas TIR e VPL que fazem isso por mim. Para deixar claro, o motivo pelo qual eu as uso, é que as fórmulas de TIR e VPL consideram que o meu Diretor Financeiro poderia ter investido o dinheiro em algo bastante seguro, como Títulos do Tesouro Nacional (isso é conhecido como o Custo de Oportunidade de Dinheiro).
Aí eu torceria para que o meu TIR e VPL seriam suficientes em comparação com os pedidos de investimento apresentados pelos outros departamentos.
Agora vamos aplicar essa mesma metodologia a um programa de bem-estar. Vamos imaginar um investimento em uma academia interna corporativa, e vejamos quais obstáculos encontramos no cálculo. Por favor, visualizam uma academia: existem máquinas para treino aeróbico, como esteiras e bicicletas ergométricas. Eles fazem com que respiremos mais forte, e têm como foco principal a melhoria da saúde cardiovascular, para a prevenção de doenças cardiovasculares e diabetes. Adicionalmente, temos os equipamentos de musculação, que fortalecem os nossos músculos e são bons para evitar doenças osteomusculares e, por fim, temos as aulas de Ioga na sala dos fundos, que são boas para a redução de estresse.
Calcular o investimento inicial da academia não é tão difícil: obtenho o custo total do equipamento, espaço, construção etc. Vamos dizer que isso resulta em um investimento inicial de R$750.000,00.
Agora, vamos calcular as reduções dos custos internos da empresa. Primeiro, preciso de uma projeção de quantos funcionários vão ter doenças cardiovasculares, diabetes, doenças osteomusculares, e doenças relacionadas ao estresse se não tivesse a academia e qual seria o custo para a empresa caso isso acontecesse.
Meu primeiro desafio é como medir as reduções nessas doenças devido a prática de exercício na academia e então converter essas reduções em termos financeiros.
Para as doenças cardiovasculares, eu estava bastante perdido, então contatei um professor da Escola de Medicina de Harvard, que me sugeriu utilizar algo chamado o Modelo de Framingham. Esse Modelo quantifica a probabilidade de uma pessoa sofrer de uma doença cardiovascular em um período de 10 anos, baseado nos fatores de risco dessa pessoa (como, por exemplo, pressão sanguínea, tabagismo, diabetes, colesterol, idade, gênero etc.)
Eu usei o Modelo de Framingham para obter uma projeção da incidência dos funcionários que iriam desenvolver uma doença cardiovascular (mas descobri que tinha que fazer vários ajustes para expandir o uso, adaptando o Modelo de Framingham de uma única pessoa para várias).
O segundo passo é calcular a porcentagem de funcionários considerados de Risco Muito Alto que seriam convertidos em Risco Alto, a porcentagem de funcionários de Risco Alto que seriam convertidos em Risco Moderado, a porcentagem de funcionários de Risco Moderado que seriam convertidos para Risco Leve, e a porcentagem de funcionários que serviam convertidos de Risco Leve para Risco Muito Leve. Depois recalculei a projeção de casos de doença cardiovascular utilizando o Framingham Model baseando-me no melhoramento de fatores de risco devido a academia (encontrei estudos epidemiológicos que possuem dados sobre a efetividade de exercício na redução de fatores de risco).
Digamos que o resultado final é que cinco funcionários não teriam doenças cardiovasculares durante os próximos 10 anos devido a academia. A próxima pergunta é: qual a redução dos custos desses cinco casos para a empresa devida ao ganho de produtividade e a redução de rotatividade e afastamentos? Nós aplicaríamos então o cálculo de algoritmos descritos nos textos anteriores para estimar a redução dos custos. Digamos que a redução dos custos desses cinco casos é de R$200.000,00.
Mas espere! Ainda não terminamos, pois agora precisamos calcular a redução dos custos devido à redução de doença osteomuscular associada com a musculação. Existem bancos de dados epidemiológicos que fornecem estatísticas da prevalência de lesões do sistema locomotor entre os funcionários e a redução que podemos esperar devido ao exercício.
Utilizando esses dados, assim como as fórmulas apresentadas nos blogs anteriores, digamos que a economia de uma redução das doenças osteomusculares foi de R$150.000,00.
Finalmente, nós adotamos uma abordagem similar para obter as reduções dos custos devido à redução de estresse associada com o programa de ioga, e chegamos à uma economia adicional de, digamos, R$170.000,00. Voilà! A economia total da academia é R$520.000,00.
Como último passo, nós dividimos os R$520.000,00 pelo investimento inicial de $950.000,00, e chegamos à uma Taxa Interna de Retorno de aproximadamente 55%! Simples assim, é dessa maneira que convertemos programas de bem-estar em investimentos.
É claro que eu simplifiquei ao extremo os passos acima, mas você conseguiu entender. A Calculadora de ROI da WELLCAST possui a maioria dos dados padrões que você precisa já incorporados (nós fizemos as pesquisas dos dados normais para você). Ela também considera o custo de oportunidade do dinheiro, o fato de que as melhorias nas doenças cardiovasculares demoram mais tempo para acontecer do que as melhorias de estresse e para o sistema osteomuscular, e o fato de que existem custos contínuos para a academia, como conta de energia, salário dos funcionários etc.
A conclusão é que é possível calcular o ROI de programas de bem-estar da mesma maneira que qualquer outro investimento. Mas como alguém apresenta tudo isso? Esse será o assunto do meu próximo texto para o blog.
Leia também: Como calcular outras reduções de custos que podem ser geradas por programas de bem-estar?
Se você acha meus textos de blog esclarecedores, por favor, convide outros para acompanhá-los (profissionais de RH, diretores médicos, administradores financeiros), ou então para visitar o nosso site, www.wellcastroi.com.